(o livro da loucura)

Votiva de Nunca

Que, desavisadamente e sempre
chovam tristezas em sua nunca paz

e o poder do seu abraço intenso
nunca evite o transbordar da dor.

Que o gozo não se faça orgasmo,
a mulher dos sonhos
não te satisfaça em nada

e a abundância da mesa à sua frente
nunca vença a fome
ou cesse a sede que te mata.

Que nunca, nunca sintas gosto!

Que não te assustem as distâncias,
sempre vás em busca

e que nunca encontres.

Que, ao voltar de mãos vazias,
a brisa não te alivie as costas
da carga de ser ninguém

e o Sol se negue a aquecer,
em desconsolo,
a impotência do que foi em vão.

Amém.